quarta-feira, 5 de maio de 2010

Chapter I

O quarto é escuro. Não se sabe se é dia ou noite. Talvez seja dia e esteja nublado, talvez seja noite, mas com cortinas dessa grossura não se saberá até que elas revelem o que escondem. Um faixo de luz se revela do outro lado do quarto. É a lâmpada do banheiro. Lá dentro está Marcos, de pé em frente ao espelho. A pia está aberta. Marcos olha diretamente para os seus olhos, que demonstram mais angústia que qualquer pessoa possa suportar. Uma lágrima escorre lentamente do seu olho esquerdo. Marcos então termina de lavar o rosto e prepara seu banho.

Em algum outro canto da cidade está Leornardo terminando sua série de exercícios diários antes de entrar para o banho. Ele cantarola alegremente alguma música de sua banda preferida enquanto se prepara para mais um maravilhoso dia. Do quarto sua linda esposa ainda se espreguiça, hoje ela poderá chegar mais tarde ao trabalho.

Marcos abotoa seu terno amarrotado lentamente enquanto aproveita para limpar com cuspe aquela mancha próxima à lapela. Em seguida vai até a cozinha e procura alguma coisa pra comer no frigobar que conseguiu pegar emprestado com seu primo. Um esboço de sorriso surge ao descobrir um resto de macarrão instantâneo do almoço do dia anterior, hoje ele teria o que comer pela manhã.

Leonardo termina seu completo café da manhã e dá um demorado beijo em sua bela companheira. Pega sua pasta e se dirige levemente ao seu maravilhoso carro importado. Conforta-se em seus brilhantes bancos de couro e prepara um agradável DVD Blue-Ray, para lhe acompanhar no caminho até seu escritório.

Marcos esfrega sua escova velha no sabonete, e escova seus dentes. Procura as últimas folhas de seu comprido currículo pelo sofá rasgado da sala, lembra-se que terá que pedir a algum "amigo" que lhe faça a gentileza de imprimir mais alguns. E finalmente ele sai de casa. Em cima de sua moto velha, ele começa a formar o itinerário.

É um bonito dia, o sol brilha pelo vidro do teto solar do carro do Leonardo. No som, sua música preferida começa a tocar e ele aumenta o volume. Aquele solo de guitarra sempre o hipnotiza, e hoje não poderia ser diferente. Foi um segundo de desatenção, um segundo para olhar os dedos do guitarrista escorregando pelos braços da guitarra. No cruzamento, Leonardo não enxergou o sinal vermelho e acabou acertando em cheio a moto do desavisado que passava por ali. Com a violência da batida, o corpo do Marcos voa por cima do carro do Leonardo e cai insólito sobre o canteiro central da avenida.

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